A Comissão Europeia já fez este exercício. Desenhou sobre um mapa da Europa o potencial para a produção de electricidade a partir do sol. E, na imensidão do continente, uma pequena mancha, quase periférica, está assinalada com a cor mais carregada - a que indica onde seria mais barata a electricidade solar.
A benesse cabe a Portugal, mais precisamente ao polígono formado pelo Algarve e pela zona leste do Alentejo, onde o sol reina à vontade, para o bem e para o mal. E é aí que se inaugura hoje a maior central solar do mundo, pelo menos por ora. São 52 mil painéis fotovoltaicos, com uma potência total de 11 megawatts (MW), que transformarão a radiação solar em electricidade suficiente para suprir o consumo de oito mil pessoas. Construída em Serpa pelas empresas General Electric, PowerLight e Catavento, a central em breve terá companhia. Não muito longe dali, Moura irá receber uma unidade ainda maior, com 62 MW de potência. Outros projectos estão a materializar-se na região.
Portugal ainda está longe, porém, de aproveitar o seu potencial. O ingrediente básico é abundante no país. Em média, o Sol brilha 1600 horas por ano no Norte e até 3300 horas por dia no Sul, segundo dados do Instituto de Meteorologia.Tavira, um dos pontos mais ensolarados de Portugal, chega a ter 12 horas de Sol diárias em Agosto. Mesmo em Janeiro, em pleno Inverno, contam-se, em média, 5,5 horas sem nuvens por dia.
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"Ai que coisa mai linda, já viste Arminda? Parece o mar... Tão lindo!" Arminda das Neves Correia tem 82 anos e acena que sim com a cabeça, "não haja dúvidas, é um trabalho bonito" que ali está, na terra que a viu nascer e que lhe há-de comer os ossos. As quatro mulheres estão rodeadas de placas de metal por todos os lados, em plena planície alentejana. É a primeira vez que botam os olhos, assim tão de perto, na maior central solar do mundo, que vai ser inaugurada hoje em Brinches, concelho de Serpa.
As quatro mulheres não sabem bem o que aquilo é - "diz que é para dar luz, não é verdade?" -, nem sabem bem se vai ser bom para a terra - "ruim não há-de ser, a senhora não acha?..." - mas para já gostam do que vêem precisamente nas terras onde já muito penaram: "Nasceu e caiu muito cabelo à gente neste sítio. Andámos aqui todas na monda, na ceifa... Quem diria que vinha a nascer aqui esta coisa? É uma maravilha."
Para já, em Brinches sobram as dúvidas. "Se houver fartura de energia sempre pode ser mais barata para a gente. É cá o meu entender", afirma, esperançoso, o senhor Luís. "O pior é se há fartura de energia e a gente paga o mesmo ou mais", responde Zé Jacinto. "Lá isso é verdade. Há sempre quem se governe bem e quem se governe mal..."
Maria Gertrudes Almada, 68 anos, não renega a central, que acha bonita, "ó lá se acho". Mas olha-a com respeito e prefere esperar para ver: "Dizem que aquilo vai fazer aqui mais calor... Ora, a gente já leva com 39º à sombra! Então é que a gente morre assados como as sardinhas! Ai mãe. Jesus!"
1 comentário:
Aqui no Oeste sao os geradores eolicos. Nascem parecem papoilas!
Eu sou uma defensora das energias renovaveis, claro!
Mas confesso que, as vezes, me questiono se houve algum estudo para optimizaçao do potencial de tantos geradores semeados por ai...
Mas vamos acreditar que sim! =)
Pelo menos o pais ta a tentar!
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