Prémios merecidos
Na planificação das suas aulas, encontram-se saídas de campo, visitas de estudo, actividades experimentais, debates, apresentações orais, trabalhos em grupo, construção de modelos, resolução de exercícios. A teoria é importante, a prática é fundamental. "De acordo com a matéria, procuro sempre encontrar alguma actividade que ponha os alunos com as mãos na massa", refere. "Os manuais apontam para algumas experiências simples e úteis, que podem e devem ser feitas nas aulas práticas, mas eu gosto de, mesmo numa aula teórica, introduzir alguma observação, alguma manipulação, que quebre o ritmo, que 'acorde' os alunos, que os faça mexer". Exemplos não faltam. "Ir a uma empresa agrícola ver como fazem luta integrada de pragas, dar um passeio à volta da escola para ver o processo de formação do solo, ver ao vivo em laboratório a reprodução de um verme, pesquisar na Internet as últimas novidades na investigação espacial ou fazer um debate sobre as implicações éticas da clonagem", adianta. "E tem sido fácil arranjar pretextos para passar da teoria à prática. Como não seguir o caminho do nosso lixo doméstico até ao aterro sanitário quando no 12.º ano se ensina o tratamento de resíduos?". "Ou como não ir às extraordinárias falésias da nossa costa quando se dão as deformações das rochas no 11.º ano?". O Clube de Ciências da escola é a menina dos seus olhos. Um espaço que se centra em três actividades: saídas de campo para o contacto com a Natureza; iniciativas com crianças, em que os alunos são monitores dos mais novos; e verdadeiros trabalhos de investigação em Ciência. No meio de tudo isto, há um requisito que não pode faltar, ou seja, uma boa relação com os alunos. "Eles sabem distinguir quando um professor vai para a aula com gosto e entusiasmo e percebem bem quando temos prazer em estar com eles. E correspondem da mesma forma." No início do ano lectivo, Paula Canha dá a conhecer o Clube de Ciências. Depois disso, convoca-se uma reunião com os candidatos a membros do clube, traça-se o plano de actividades, constituem-se grupos de trabalho e nomeiam-se os responsáveis. Não há horas obrigatórias de trabalho. "Talvez um dos trunfos mais fortes deste clube é a sua enorme abertura ao exterior, porque cada projecto envolve sempre um tutor de uma universidade ou instituto de investigação, a câmara municipal e empresas ou entidades que, de alguma forma, se relacionam com o tema do projecto", explica. "Aprendemos muito mais e vamos muito mais longe, com a ajuda de diferentes pessoas ligadas à temática dos projectos", acrescenta. Há mais. Paula Canha orientou vários projectos que foram distinguidos a nível nacional e internacional. Entre eles está "O declínio do montado - o caso do sobreiro e da azinheira" que venceu o primeiro prémio nacional do 18.º Concurso Europeu para Jovens Cientistas" e o terceiro prémio da Intel/Feira Internacional de Ciência e Engenharia nos Estados Unidos, em 2007. "São tantas as histórias que fazem de cada projecto uma experiência inesquecível." Paula Canha recorda os momentos passados à volta da fogueira no meio do montado alentejano, o tempo usado a capturar anfíbios nas lagoas, as conversas com os agricultores, a sessão improvisada de ioga para afastar o stress aos alunos antes das entrevistas com o júri, os serões passados a treinar o inglês para a defesa dos projectos. Sacrifícios pessoais sempre compensados. Há uma aula ideal na sua cabeça. "É aquela em que os alunos não dão pelo passar do tempo e quando mando arrumar eles dizem: 'já?'". Aulas de uma grande exigência. "Talvez a maior ameaça a uma prática centrada na qualidade das aulas seja a multiplicidade de reuniões que existem nas escolas e a quantidade de 'papelada' que temos de preencher. Depois de seis horas de aulas, uma reunião de duas horas e a elaboração de um qualquer plano, quem tem energia e coragem para roubar à família o pouco tempo que sobra no fim do dia?", questiona. "De qualquer forma, a avaliação dos docentes não está centrada na qualidade das aulas, pelo que se compreende que esse aspecto continue a não ser prioritário para os professores, o que é uma pena", repara. "Mas compreendo que as pessoas não tenham resistência para tanto. Para fazer o que faço, tenho de trabalhar muito mais horas do que é razoável", remata. Foi a escola onde lecciona que sugeriu o seu nome para o prémio. "Nas férias vem para a escola com os alunos e fazem muita investigação de campo", revela Natália Amaral, do conselho executivo da Secundária de Odemira. "É uma pessoa muito humilde e que faz um trabalho muito importante com os alunos", acrescenta. O Prémio Inovação trouxe-lhe mais responsabilidade e contactos. "Tenho recebido recursos óptimos para trabalhar com os alunos, de pessoas que não conheço, mas que me enviam publicações e outros materiais - é espantosa a generosidade destes cientistas." Os alunos motivam-se mais num trabalho que é reconhecido, os colegas de profissão pedem-lhe ajuda e conselhos.
1 comentário:
Obrigada por nos dar a conhecer estes magníficos exemplos! Bom fim de semana. Bjs.
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